quinta-feira, 20 de agosto de 2009

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seja bem vindo. não tente entender as almofadas no chão, nem o sofá perto da janela, em dias de festa. demoro pra explicar. as nuvens escuras não decoram o teto, nem são feitas de tinta, mas elas me visitam, vez e outra. as paredes são coloridas, mas não se engane: chove de verdade aqui dentro. às vezes fica tudo preto. e há dias em que não adianta correr da tempestade. enche e transborda. enxurrada de sensações, solidão, dúvidas e até certezas... chove sinceridade, também. chove paz, chove amizade. não me afogo com essas últimas, mas fico aliviada, me refresco. agradeço, mas também estremeço. as coisas mudam muito. após a tempestade, as folhas no chão encontrarão seu caminho pelo rio que escoa no corredor. não sei se ele é feito de amor, de esperança, de alegria ou se são as muitas lágrimas que já derramei no meu quarto e que acabaram transbordando para fora dele. pode ser. e quando a garoa diminuir, a sombra apática que reflete na parede se encontrará com o sol, além da janela, e um arco-íris virá me visitar. mas enquanto isso, na tempestade, faço e me desfaço em imperceptíveis partes desiguais. incapazes de formar um todo. apenas tentando completar os ladrilhos imperfeitos da minha vida. os trovões gritam e, na mesma intensidade, eu faço um pedido a Deus: meu Deus, mesmo nessa chuva, nesses trovões, mesmo nesse mundo frio, me dê um coração quentinho. depois que os trovões se calarem, depois que a tempestade passar, eu perceberei, como sempre, que não era medo do trovão que eu tinha, nem da chuva, nem da tempestade, nem da nuvem preta sob meu teto. o medo que eu tinha, era medo de me perder nesse universo que tenta, dia a dia, me roubar de mim. então, tudo volta a fazer sentido por cinco segundos. quatro, três, dois, um… contagem regressiva para o mesmo começo. levanto, olho: passou a chuva. pura simples vida. talvez se eu mudasse os móveis de lugar… às vezes, eu só preciso me deslocar, abrir janelas de dentro, falar de mim. é por isso que você está aqui. expectador da minha reforma constante e eterna, faça mais do que me observar, faça mais do que se distrair com cores e objetos. entre, me escute, responda minhas perguntas. com todo prazer, serei toda ouvidos, mas não esqueça: eu também levanto meus muros. mas, com jeitinho, me experimente. tenho muito pra contar. não sei de tudo, não. sei pouco. desconheço muito, muitas coisas. mas se estou aqui, se te deixei entrar, é porque me agrada. gente é pra ser entendida. e na minha casa, só entra quem quer aprender, ver e viver as pequenezas do sentir.

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